O João tem agora 5 anos e tem diabetes tipo 1 desde os 21 meses. Neste espaço partilho tanto as minhas alegrias e as minhas conquistas, como os meus receios e tristezas em relação à diabetes do meu filho, na esperança de que a minha história ajude outros pais de crianças com diabetes.















sábado, 8 de janeiro de 2011

Mãe, porque é que eu tenho diabetes?

O João foi diagnosticado com 21 meses e esteve até aos 3 anos em casa. Uns 7 ou 8 meses depois de ter sido diagnosticado, a seguir a eu lhe ter administrado a insulina, perguntou-me: “Mãe todos os meninos têm de fazer picas como eu?”. Penso que terá sido nesse momento que ele começou a perceber que é diferente dos outros meninos. Respondi que não, com a maior naturalidade possível, e ele aceitou, também com naturalidade.
Quando entrou para o infantário, uma das minhas fontes de ansiedade era pensar que ele iria aperceber-se melhor de que era diferente e que os outros meninos também iriam olhar para ele de modo diferente, o que o poderia deixar triste.
Uns quatro ou cinco meses depois de estar no infantário, enquanto se sentava à mesa para jantar, disse: “Sou diabético” e olhou para mim orgulhoso e sorridente (estava naquela fase em que cada dia aprendia a utilizar uma palavra diferente e usava a mesma palavra várias vezes, em várias frases, olhando sempre para mim, para saber se estava a usá-la bem). Fiquei sem pinga de sangue. Percebi que era mais um passo na sua tomada de consciência da doença, o que era bom, e até era engraçado ele tão pequenino a dizer uma coisa daquelas. Ai, mas fiquei tão triste! Nesse dia, repetiu a frase várias vezes até a dominar e não me lembro de a ter ouvido mais alguma vez na sua boca.
Eu sei que é um detalhe parvo, mas eu tento sempre não dizer “o João é diabético”, mas sim “o João tem diabetes”. Ele não é a diabetes. Ele é o João, que gosta de dinossauros, de chocolate e de inventar rimas. Enfim, eu sei que é um pormenor…
Quanto aos outros meninos, no primeiro ano de infantário, sempre que chegava a altura de dar a insulina ao João, ficavam quase todos de pé em redor dele e perguntavam porque é que ele tinha de levar a pica. A educadora explicava, mas na refeição seguinte estavam lá todos de novo, a fazer a mesma pergunta. Agora já perceberam ou aceitaram. A pergunta agora é outra. O João por vezes comenta: “Mãe, os meus amigos estão sempre a perguntar se as picas doem. Eu já disse que não dói!”
Moral da história: os meus receios não tinham fundamento. O João e os seus amiguinhos, talvez pela idade, encaram tudo com muita naturalidade. Ele integrou-se muito bem e ainda ontem chegou a casa dizendo que tinha tantos amigos na escola.
            Entretanto, no mês passado, quando estava a preparar-se para dormir, perguntou-me: “mãe, porque é que eu tenho diabetes?”. Eu até estava à espera desta pergunta, mas lá para a adolescência! Fiquei sem saber como responder. Coincidência ou não, uns dias depois, o nosso vizinho Tomás, companheiro de brincadeiras de 5 anos, estava cá em casa e, ao ver mais uma vez o João levar a insulina, perguntou: “Dominique, porque é que o João tem de levar a pica na barriga?”. Então aí expliquei tudo bem direitinho (já tinha tido tempo para me preparar): que o corpo produzia uma substância que destruía o açúcar da comida e, como o do João não fazia isso, tinha de levar aquele líquido que estava dentro da caneta. O João ficou muito sério, a beber todas as minhas palavras. Quando me calei, a reacção foi: “Ah! Está bem!” E retomaram as brincadeiras…
            Calculo que no futuro não será assim tão fácil. Com a idade, perdemos a capacidade que as crianças têm de aceitar as diferenças dos outros sem os julgarmos. Mas, como se costuma dizer, o futuro ao futuro pertence!

1 comentário:

  1. Como te compreendo, este também é um dos meus maiores medos. Tenho muito medo que seja descriminado, que o excluam de alguma coisa só por ter diabetes.mas penso que também vai de nós, nós enquanto pais e a maneira como lidamos com iso, mudar a mentalidade, a forma de pensar dos outros, o que dizem, isso náo podemos e não conseguimos mudar.
    Mas podemos dotar os nossos filhos de sentimentos bons, de maneiras saudáveis de lidar e controlar a diabetes, essa vai ser a nossa grande arma para enfrentarmos qualquer situação menos agradável.
    Eu também nunca digo que o André é diabético, assim como não digo q eu própria sou miope, O André tem diabetes, eu tenho miopia...
    Acho que faz toda a diferença.
    Bjs grandes

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