Tenho ouvido vários testemunhos de mães, comentando que os filhos se revoltaram contra a diabetes durante a adolescência, período da vida que temo desde que o João nasceu. É assim como que o meu bicho papão pessoal do crescimento.
Tenho-me agarrado à ideia de que nem todos os miúdos têm uma adolescência difícil, nem todos têm de se revoltar e talvez eu tenha sorte...
Mas começo a duvidar dessa possibilidade.
O João queixa-se cada vez mais da dor que a Lantus lhe causa.
Começou por me pedir, com carinho, na hora de adormecer: "Mãe, temos de acabar com estas picas. Fazemos só a pica do dedo, está bem? Prometes?"
Mas, na semana passada, chamou-me "mázinha" quando lhe dei a Lantus. A seguir, pôs-se em pé na cama e deu um berro: "EU NÃO SOU DIABÉTICO!!!"
Fiquei tão surpreendida que nem tive a oportunidade de ficar triste ou perturbada. Comecei-me a rir por ver aquele homenzinho de 4 anos a dar o seu grito de afirmação pessoal.
E foi com um sorriso nos lábios que lhe respondi que ele tinha razão, que não era diabético, que era o João, um menino que gosta de inventar canções, dizer piadas, desenhar monstros, ir ao parque... e fomos assim enumerando as preferências do João, nas quais ele acabou por me incluir: "e que gosta muito da mãe".
UFA! Desta já me safei. Mas ficou o gostinho daquilo que me espera. E eu que achava que tinha uma data de anos para me preparar para o evento!
Não sei como vou fazer, o que vou dizer, como vou reagir. Mas de uma coisa tenho a certeza: se eu não lidar bem com a diabetes e a aceitar como um mal menor, uma rotina da nossa vida, não vou conseguir convencê-lo de que é assim mesmo.
Por isso, essa é a minha estratégia: vou fazer as pazes com a diabetes, tentar recuperar alguma qualidade de vida que talvez tenhamos perdido devido às restrições por mim mesma impostas (mas que já me sinto com conhecimento e força para ultrapassar).
Mais do que isto já é querer controlar o futuro, e essa é uma luta perdida à partida.