O João tem agora 5 anos e tem diabetes tipo 1 desde os 21 meses. Neste espaço partilho tanto as minhas alegrias e as minhas conquistas, como os meus receios e tristezas em relação à diabetes do meu filho, na esperança de que a minha história ajude outros pais de crianças com diabetes.















sábado, 19 de março de 2011

Tudo o que sei sobre... a medição da glicémia

Ganhar calo à dor... literalmente
A minha, mãe, avó do João, recusa-se a picar-lhe o dedo por dizer que dói muito quando lhe fazem a medição a ela. O João deixou de se queixar uns dois ou três meses depois de começar a fazer as medições da glicémia. Os dedos começam a ficar menos sensíveis e a pele mais dura nos locais onde costumamos picá-lo. Hoje em dia, pico-o durante a noite e ele nem acorda.

Só uma gotinha de sangue
Quando o João era mais novo, era muito difícil conseguir uma gota de sangue suficientemente grande para fazer funcionar o aparelho. O que costumava fazer na altura era pedir para ele "bater palminhas", uma coisa que todas as crianças gostam de fazer e que ajuda muito a trazer sangue à ponta dos dedos. Outra ideia é "expremer" os dedos, da base até à ponta, antes de picar (e depois) para ajudar a concentrar sangue na ponta do dedo.

Dedo mindinho ou seu vizinho?
Recentemente aprendi que não devemos picá-los nos dedos polegar e indicador (sobretudo os da mão direita), porque é importante que tenham sensibilidade nesses dedos. Faz sentido, por isso segui esse conselho.

A tecnologia pode ajudar
Para além da dor, outro problema que enfrentamos quando temos de picar aqueles dedinhos tão pequeninos todos os dias é que eles ficam todos feridos. Até custa ver! Esse problema melhorou bastante quando mudei de aparelho de picar. Agora usamos o AccuCheck Multiclix, que é bastante melhor do que aquele que tinhamos. 

Os conselhos dos avós fazem sentido
Como o de lavarmos sempre as mãos com sabão antes... neste caso de picar o dedo. Os dedos podem ter restos de açucares, que podem influenciar os valores da medição.

A tecnologia pode atrapalhar
Devemos ter o cuidado de manter o aparelho de medição da glicémia longe de outros aparelhos electricos, pois podem interferir com o glucómetro e alterar o resultado da medição.

Quente com quente, frio com frio
O aparelho de medição deve estar a uma temperatura semelhante àquela que está no ambiente em que se faz a medição. Podemos pensar que as temperaturas são sempre iguais, mas não nos esqueçamos que por vezes o nosso carro, que ficou estacionado ao sol, ou o quarto aquecido do nosso filho estão muito mais quentes do que o local onde tinhamos guardado o glucómetro.

terça-feira, 15 de março de 2011

Biscoitinho de canela

Antes de descobrir esta receita de biscoitos, tinha sempre em casa 6 ou 7 qualidades diferentes de bolachas porque, por vezes, queria que o João comesse uma bolacha entre refeições por desconfiar que os valores da glicémia não iriam aguentar até à hora da refeição seguinte e começava a oferecer: queres uma destas? Não! Então uma destas, queres? Já não gosto dessas! Era um desespero.

Um dia ele pediu para provar uns biscoitos, em forma de rosca, comercializados, mas caseiros, e que, pelo teste do paladar, pareciam não ter muito açucar. Eram uma bomba! Valores altíssimos, choradeira porque queria mais um biscoito...

Arranjei uma receita de uma tia-avó, que fui modificando e que acabou por dar nisto:

3 ovos inteiros
50 gr de açucar
canela a gosto (costumo pôr cerca de 2 colheres de sopa)
1 colher de sopa de banha
Metade de um pacote dos pequenos de Becel (o pacote tem 125 gr).
500 gr de farinha
1 colher de sopa de fermento

Mistura-se tudo, amassa-se um pouco e faz-se os biscoitos. Levo cerca de uma hora a terminar o processo. Mas vale a pena. O pior é que os adultos adoram também e acabo por ter de fazer biscoitos regularmente para alimentar tantos gulosos!

A manteiga becel pode ser subtituída por qualquer outra manteiga sem sal. A receita original pedia manteiga normal, salgada, mas para juntar açucar suficiente para cobrir o sal era um problema, por isso faço assim. Por vezes, acrescento um pouco de baunilha também...

Por vezes substituo umas colheres da farinha normal de trigo por farinha de trigo integral. A textura do biscoito não fica tão boa, mas assim tem mais fibras e guardo esses biscoitos para quando ele quer comer e não deve. Os que mostro na fotografia têm bastante farinha integral.

Outra descoberta que fiz é que este formato de biscoitos tem muito menos massa do que uma bolacha ou uma bolinha com o mesmo diâmetro. Para além disso faço sempre os biscoitos fininhos e pequenos. Assim dou-lhe 3 biscoitos de uma vez e ele ficar feliz, feliz! 3???!!! Uau! (Que bom que é ser pequenino!)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Uma montanha russa de emoções

A necessidade de estar alerta e concentrada nos factores que influenciam as glicémias e nos próprios níveis da glicémia vinte e quatro horas por dia ocupa quase todo o espaço do meu cérebro e das minhas emoções.

Parece uma montanha russa de sentimentos: acerto na dose de insulina, os valores da glicémia estão óptimos - fico contente -, a seguir tem uma hipo e não consigo perceber porquê - fico triste -, na refeição seguinte tem uma hiper - fico zangada comigo própria por não ter percebido que tinha de lhe dar mais insulina. E ainda há as vezes em que chego ao fim do dia esgotada: com o olhar parado, meia desconcentrada, tipo autómato, só a assegurar os serviços mínimos.

O pior é que não sou só mãe de um menino com diabetes, sou mulher, professora, filha, irmã, amiga... tantos papéis que temos de assegurar nas nossas vidas e todos eles a exigirem tempo e energia.

Recebo por vezes reclamações de outras pessoas importantes na minha vida por falta de atenção ou de dedicação. É a cereja no topo do bolo: para além de me sentir incompetente no controlo da diabetes do João, só falta mesmo ficar a saber que sou má esposa, irmã, vizinha... Mas temos de estabelecer prioridades e a maior de todas para mim é a saúde e o bem estar do meu filhote, afinal fui eu que o trouxe ao mundo!

domingo, 6 de março de 2011

Hormonas de crescimento e glicémias

Nos últimos três dias, o João tem andado com os valores mais altos do que é hábito. Com as quantidades de insulina que lhe costumo dar, tem sempre os valores a rondar os 200.

Essa é uma das dificuldades que temos de enfrentar: as regras estão sempre a mudar e temos de estar atentos e de conseguir adaptar-nos rapidamente. Isso é bem difícil. Quando consigo acertar na dose de insulina para determinada refeição fico tão contente e preparo-me logo para aplicar a mesma regra da próxima vez. Resulta durante uma semana, mas na semana seguinte muda tudo de novo... Por vezes interiorizo a regra tão bem que custo a aperceber-me que ela já não está a resultar.

Um dos factores que afecta as glicémias do João ciclicamente são os surtos de crescimento. Quando eles crescem muito rapidamente (aquilo a que costumamos chamar "dar um pulo") o nível das hormonas de crescimento aumenta e isso aumenta a necessidade de insulina.

Acho que é isso que está a acontecer agora. Geralmente espero dois ou três dias para decretar uma alteração de padrão, para ter a certeza de que os valores mais altos não se devem a algum nervosismo ou excitação de um dia em especial.

Nos últimos três dias tenho estado a aumentar a insulina rápida às refeições, mas esta noite o que vou fazer é aumentar uma unidade na insulina lenta, a da noite. Isso vai ajudar a baixar as glicémias durante todo o dia.

O contrário costuma acontecer quando ele está doente e come menos ou vomita durante algum tempo: nos dois dias seguintes parece ficar muito sensível à insulina e tenho de diminuir um pouco as doses.

Com o tempo, esta ginástica vai-se tornando mais fácil e vamos ganhando flexibilidade, como em qualquer actividade que requer treino e dedicação.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Exercício físico e glicémias...aos 4 anos

Desde a altura do diagnóstico até agora nunca senti grande influência da actividade física nas glicémias do João. Ele também é um miúdo bem disposto, mas muito calmo. Só se fizesse um passeio de uns 500 metros é que havia uma descida da glicémia.

Tem uma aula de educação física com a educadora, no infantário, de que gosta muito, mas que também continua a não lhe afectar a glicémia.

Este ano começou a ter uma aula de educação física por semana, dada por um professor licenciado em Educação Física. Ele lancha às 15h30 e a aula começa às 17h00 (no infantário). Pedi se lhe poderiam dar uma bolacha antes, tomei todas as precauções. No primeiro dia...esqueci-me que ele ia fazer ginástica. Levou bastante insulina ao lanche. Eram quase 17h00 quando me lembrei. Saí do trabalho preocupadíssima, fui sempre a acelerar pelo caminho, cheguei lá à beira de uma ataque de nervos! E ele saí de lá super bem disposto! Todo transpirado, mas com a glicémia acima dos 200.

Aproveitei para falar com o professor: "este menino tem diabetes, se ele alguma vez se queixar de que está cansado ou tiver algum outro comportamento pouco habitual..." e o professor corta-me a palavra, com um ar muito orgulhoso do seu conhecimento na matéria: "digo-lhe que pode descansar". Ai, ai! Mais um para instruir. Todos os males fossem esse. O pior é que vi, pelo modo como olhou para o João, que para ele os miúdos devem ser todos parecidos. Duvido muito que tenha fixado a cara do meu. O que vale é que a aula é no Infantário e lá todos estão muito atentos.

"Gostaste da aula de ginástica, João?" - "Não, é muito canxativa!" A resposta é sempre a mesma e vê-se que é verdade: saí de lá todo transpirado e adormece mais cedo à noite. Mas continua a chegar às 19h00 com valores acima dos 200. Só posso chegar a uma conclusão: ele deve enervar-se na aula. Não vejo outra explicação. A aula de educação física, que deveria baixar a glicémia, torna-a mais alta, pois é um factor de stress para o meu filho. Não há nada nesta doença que seja simples e óbvio!

Em compensação, se o tempo estiver bom e ele for brincar para o recreio, as glicémias baixam bastante (ao contrário do que acontecia até aqui). Ele corre muito mais agora - ora é o homem invisível, ora o gormiti do ar, e já se sabe que qualquer super-herói que se preze tem de correr a grandes velocidades! Pergunto sempre à educadora, quando me liga, se eles vão para o recreio ou não e tento ter isso em conta no calculo da insulina.
Às vezes acerto, outras nem por isso... Como sempre, aliás!