O período seguinte foi de adaptação: aprender as técnicas, criar novas rotinas, manter os valores estáveis. Devo confessar que essa parte foi surpreendentemente fácil. Bastava seguir as regras, ser organizada. Aparentemente tudo corria às mil maravilhas.
O pior foi mesmo lidar com as emoções. Tive de me despedir de muitos dos sonhos que tinha para o meu filho e para a minha família. Foi como se dentro de mim houvesse simultaneamente uma montanha russa, uma casa dos espelhos e uma casa dos horrores de emoções. Este período durou um (longo) ano….
Pensamento 1
Isto foi certamente culpa minha. Tenho de saber o que fiz de errado. Leio tudo o que posso sobre diabetes. Terei comido muitos doces durante a gravidez? Protegi demasiado o João?
Pensamento 2
Os alimentos proibidos estão por todo o lado. Evito-os a todo o custo. Tento que o João também não os veja. Chego a chorar no supermercado, por me aperceber que estou no corredor dos doces. Penso que o meu filho nunca vai poder comer um pedaço de chocolate, saber o que é uma goma… Prometo a mim própria não comer mais guloseimas. Sinto-me ainda mais culpada porque sei que não vou conseguir cumprir.
Pensamento 3
Não somos uma família normal. Nunca vamos voltar a ser uma família normal É Verão. As famílias comem gelados despreocupadamente nas esplanadas dos cafés. Os pais não fazem planos. Têm o dia por sua conta. Nada de horários de refeições, nada de medos de hipo e hiperglicémias.
Pensamento 4
Não é justo! Não devia ser possível uma criança tão pequena ter diabetes. É tão difícil conseguir uma gota de sangue nestes dedinhos; tão difícil ir mudando o local de administração da insulina, num corpo tão pequeno.
Sinto-me tão cansada! Durmo apenas por curtos períodos de noite. Tenho medo das famosas hipoglicémias nocturnas. E se ele perder os sentidos ou ficar em coma? Tudo depende de mim. Esta é a divisa que vai passar a governar a minha vida. Já passaram dois anos e ainda não me livrei dela…
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